quarta-feira, 20 de outubro de 2010

#12. GANGSTER´S PARADISE : JERUSALEMA


"Gangster´s Paradise : Jerusalema" (África do Sul, 2008, 119´)
Realização: Ralph Ziman
Argumento: Ralph Ziman
Fotografia: Nic Hofmeyer
Actores: Rapulana Seiphemo ("Lucky Kunene"), Ronnie Nyakale ("Zakes Mbolelo"), Jeffrey Zekele ("Nazareth"), Shelley Meskin ("Leah Freidlander"), Robert Hobbs ("Detective Swart"), Jafta Mamabolo ("Young Kunene"), Motlasi Mahloko ("Young Zakes"), Kenneth Nkosi ("Sithole"), Kevon Kane ("Van C), Louise Saint-Claire ("Anna-Marie Van Rensburg), Daniel Buckland ("Josh Freidlander").

# Este filme sul-africano tem sido premiado um pouco por todo o seu continente, mas passou despercebido no mercado europeu. O realizador/argumentista Ralph Ziman (cujo último filme "The Zookeeper", com Sam Neill, datava já de 2001) traz nos a história real de Lucky Kunene, considerado um dos maiores gangsters de Joanesburgo, e líder da comunidade de Hillbrow, um dos bairros mais degradados da capital.

A história é quase uma biografia da vida deste homem, criminoso para alguns, mas apelidado de "Robin dos Bosques" pelos habitantes dos bairros que controlava.

Inicia-se na sua juventude, no Soweto, em 1994, ano em que foi abolido o Apartheid. Uma onda de esperança varre a África do Sul, e muitos jovens acreditam que os seus sonhos são possíveis. Kunene quer ir para a universidade estudar economia, mas não consegue uma bolsa de estudo, e a sua vida é muito miserável. A sua mãe sustente sozinha cinco filhos, e mal tem o que lhes dar de comer. 
Desesperado, Kunene e o seu amigo Zakes, começam a procurar soluções para a sua vida e são instigados por Nazareth (um herói no Soweto, um dos lutadores da liberdade, com formação de guerrilha na ex-URSS) para cometerem pequenos delitos. Rapidamente passam para o "hi-jacking" e vão ganhando um bom pé de meia. Até ao dia que um assalto a uma loja corre mal, e assistem à morte de muitos companheiros, acabando por fugir incógnitos para a grande cidade de Joanesburgo.


Dez anos depois, Kunene e Zakes, têm um táxi e sobrevivem ao dia-a-dia. Até ao momento em que Lucky Kunene tem a ideia que vai mudar a sua vida. Decide criar uma associação de apoio aos moradores. Convence-os a entregarem-lhe a ele todas as rendas e ele é que se encarrega de negociar com o patronato. Com um plano muito bem concebido, acaba por tornar-se proprietário de uma série de prédios em Hillbrow. Visto como marginal pelas autoridades, e protegido pela comunidade, constrói um pequeno império, até à sua prisão.

Acaba por ser uma realidade semelhante ao que temos visto em filmes de outros países, mas com problemas muito parecidos. O realizador mostra abertamente a dura vida destas gentes, inseridas numa realidade pós-apartheid, com muita esperança mas poucas oportunidades.

Fiquei especialmente surpreendido pelos jovens actores Jafta Mamabolo e Motlasi Mahloko, que interpretam Kunene e Zakes em novos. Duas excelentes interpretações. 
Rapulana Seiphemo ("Lucky Kunene") consegue também preencher a tela com o seu olhar e feições fortes. Consegue juntar a agressividade e a simpatia, tornando-o num personagem muito enigmático.
Destaque também para Kevon Kane (o traficante "Van C"), num papel de uma exilado judeu-nigeriano, que se torna num dos principais inimigos de Kunene. 


Ziman opta por uma mistura de estilos, utilizando muita camera à mão nas alturas de maior tensão e contrapondo com uma linguagem mais clássica noutros momentos. Mantendo-se sempre em cima dos acontecimentos, consegue transportar nos para a realidade da comunidade.
A fotografia, muito pontuada com tons dourados e castanhos, acompanha de forma muito forte o filme, e ajuda-nos a entrar na realidade desta zona de Joanesburgo.

Mais uma boa surpresa do cinema sul-africano, que parece ganhar cada vez mais força no panorama internacional.

Bom para uma sessão da tarde.


Nota: 7 / 10 



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