"Un Prophète" (França, 2009)
Realização: Jacques Audiard
Argumento: Thomas Bidegain e Jacques Audiard
Fotografia: Stéphane Fontaine
Actores: Tahar Ibrahim ("Malik El Djebena"), Niels Arestrup ("César Luciani"), Adel Bencherif ("Ryad"), Hichem Yacoubi ("Reyeb"), Reda Kateb ("Jordi"), Jean-Philippe Ricci ("Vettori"), Pierre Leccia ("Sampiero"), Jean-Emmanuel Pagni ("Santi").
Como premissa para ver este filme bastaria dizer que ganhou o Grand Prix do Festival de Cannes em 2009. E ainda para mais com um júri presidido por Quentin Tarantino. E não foi só este prémio que o filme ganhou. Foi vencedor de um BAFTA (British Film Awards) para Melhor Filme Estrangeiro, arrecadou 9 Césars (prémios do cinema francês), incluindo Melhor Filme, Melhor Actor, Melhor Fotografia, Melhor Realizador, Melhor Edição, Melhor Actor Secundário e Melhor Argumento. E esteve ainda nomeado para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. E isto só para citar os mais importantes, pois o protagonista Tahar Ibrahim (no seu primeiro papel em cinema!) venceu prémios de Melhor Actor um pouco por todo o mundo.
É inexplicável como uma obra destas passa despercebida das salas portuguesas. Não é uma obra-prima, mas é com certeza um dos melhores filmes do ano, até da década.
Jacques Audiard escreveu e realizou o filme e mostrou uma nova faceta do cinema francês, ultimamente demasiado perdido em dramas psico-amorosos. Aqui a história é de ficção, mas é tão real e crua a forma como é filmada, que nos deixa praticamente em transe desde o início do filme. Numa história sem heróis, agarramos nos ao protagonista e torcemos por ele durante todo o tempo.
Malik El Djebena é um jovem árabe de segunda geração. Não tem família, não liga à religião, é analfabeto. Assalta um supermercado, anda à tareia com polícias e é preso, condenado a 3 anos de prisão. Todo o resto da história se passa dentro da cárcere, e conta a sobrevivência deste jovem, que acaba por sair de lá um gangster. Aprende a ler, alia-se aos prisioneiros córsegos, vende droga, consegue mexer negócios cá fora, enfim um sem rol de acontecimentos que acabam por torná-lo um verdadeiro barão. A outra personagem forte é César Luciani, um "padrinho" da mafia córsega, que oferece protecção a Djebena em troco de um assassinato. A pouco e pouco vai tendo confiança nele e confia-lhe as suas missões mais secretas.
É muito interessante as diferentes rivalidades dentro das prisões francesas, com árabes de um lado e os gangsters córsegos do outro.
Tahar Ibrahim interpreta brilhantemente o papel do jovem árabe, e sua transformação - tanto psicologicamente, como fisicamente - é soberba. É realmente algo de extraordinário o que este actor consegue fazer neste filme, levando-nos a torcer do início ao fim por este improvável herói.
Niels Arestrup é o gangster córsego, em fim de carreira, e da relação entre os dois vive grande parte do filme. Este actor francês de origem dinamarquesa, faz do Luciani um homem tão cruel, que o mínimo rasgo de simpatia quase que o torna boa pessoa por momentos.
Este é outro factor curioso do filme. Impregnamos nos de tal forma nesta dura realidade, que vivemos cada emoção e esperança do protagonista como se fosse nossa.
A realização de Audiard consegue tudo isto, prender-nos durante todo o tempo. Os seus quadros, tanto do mais simples, como movimentações muito arrojadas, mostra nos como é possível juntar vários estilos dentro de uma mesma história, e nunca perder o rumo. A fotografia e a direcção de arte fazem o resto. Brilhante equipa que Jacques Audiard juntou, e que realmente faz a diferença e sobressai do actual panorama francês.
Grande surpresa realmente não estava à espera. Tinha o filme já comigo há algum tempo e ainda não tinha visto. E fiquei chateado quando percebi que o já devia ter feito.
É realmente uma obra a ser vista e revista. Para qualquer hora do dia ou da noite.
Nota: 9 / 10
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