quarta-feira, 13 de outubro de 2010

#07. INDIGÈNES



"Indigènes" (França, 2006)
Realização: Rachid Bouchareb
Argumento: Rachid Bouchareb e Olivier Lorelle
Fotografia: Patrick Blossier
Actores: Jamel Debbouze ("Said Otmari"), Samy Naceri ("Yassir"), Roschdy Zem ("Messaoud Souni"), Sami Bouajila ("Abdelkader"), Bernard Blancan ("Sergent Roger Martinez"), Mathieu Simonet ("Caporal Leroux"), Assaad Bouab ("Larbi"), Mélanie Laurent ("Margueritte")

# Este filme traz nos a história real dos soldados africano-francófonos que combateram na II Guerra Mundial pela, na altura, pátria-mãe : a França. Os "Indigènes" (indígenas), como eram conhecidos, eram oriundos das ex-colónias francesas Argélia, Marrocos, Tunísia, Senegal, Costa do Marfim e Mali, entre outros. Mostra-nos o seu percurso desde os combates em Itália até ao sul de França, e posteriormente junto à fronteira alemã, sendo dos primeiros franceses a re-entrar na Alsácia.

Este épico venceu alguns prémios importantes, como o de Melhor Actor em Cannes(atribuído ao conjunto de actores do filme ex-aequo),  César para Melhor Argumento (tendo estando nomeado e perdido todos os outros), e esteve também nomeado para os Óscares como Melhor Filme Estrangeiro. Foi um dos filmes com mais investimento francês dos últimos tempos, mas acabou por ser quase um "flop" de bilheteira.


A verdade é que a premissa prometia bem mais do que o filme nos entrega. Logo à partida estranhei uma coisa: os quatro protagonistas (todos actores franceses de origem árabe) são dos mais conhecidos que há em França. Parece que os personagens foram criados para eles e não o contrário. É um desfilar de estrelas que não se coaduna com a força da história. Depois ver o excelente Jamel Debbouze (o mesmo de "Le Fabuleux Destin d´Amélie" que tem uma deficiência real num dos braços) a nunca assumir a sua incapacidade e a comportar-se como um militar, quando vemos claramente que ele tem um problema, para mim, causa-me alguma celeuma.

A história é interessante, mostra um lado desconhecido da II Grande Guerra, e presta homenagem a estes heróis improváveis, que sendo quase escravos no seu país, vão combater lado a lado pela pátria que os colonizou. E com querer e vontade, aliás são só voluntários. É bonito ver logo no início do filme, numa remota aldeia argelina, a gritarem em árabe que vão salvar a França da invasão alemã e lutarem contra Hitler. Por momentos vi todo o conflito actual incompreensível, depois de tamanha união naquela altura.

O grande problema deste filme, para mim, é que tenta adoptar o "american way" de contar os épicos de guerra, em vez de tentar uma nova fórmula à francesa. Claro que a realidade era bem crua e triste, mas há momentos em que a realização exagera na dramatização dos eventos.


O estilo de Rachid Bouchareb (também co-autor do argumento) é do mais clássico que há, e muitas das sequências de batalha parecem-me um pouco pobres. E já vistas e revistas. Não é isso que nos prende ao filme. A única diferença é mesmo os soldados serem africanos e não americanos. Penso que Bouchareb não conseguiu o resultado que desejava, ficando o filme um pouco aquém do esperado (sobretudo para o enorme investimento), e para o potencial da história que tinha para contar.

Os actores estão todos a um nível regular, não comprometem, nem impressionam. Curiosamente, só o menos conhecido do quarteto é que se distingue. Sami Bouajila (que interpreta o Cabo Abdelkader) consegue elevar mais a fasquia e é uma boa surpresa. Do restante elenco destaco também Bernard Blancan na pele do duro "Sergent Martinez", um pied-noir (franceses nascidos nas colónias) que lidera o regimento africano.


No final sabe a pouco. Sim ficamos comovidos com esta história, mas uma mensagem tão forte como esta, merecia sem dúvida uma abordagem mais cuidada e centrada no que realmente interessa, e não perder-se em infinitos detalhes, que de tão levianamente falados, são descurados no cômputo geral.

Bom para uma matiné de dia de chuva.

Nota: 6 / 10

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