quarta-feira, 29 de setembro de 2010

#04. THE DAMNED UNITED


"The Damned United" (UK, 2009)
Realização: Tom Hooper
Argumento: Peter Morgan
Fotografia : Ben Smithard
Actores : Michael Sheen ("Brian Clough"), Timothy Spall ("Peter Taylor"), Colm Meaney ("Don Revie"), Maurice Roeves ("Jimmy Gordon"), Peter McDonald ("Johnny Giles"), Stephen Graham ("Billy Bremner"), Jim Broadbent ("Sam Longson").

# Excelente filme. Voltei a revê-lo ontem pela segunda vez e consegui me deixar absorver do princípio ao fim. Obviamente que sou fã de futebol e esse factor também é importante para prestar mais atenção.
Ainda para mais quando há muito poucos filmes que se atrevem a debruçar sobre o tema de forma tão concisa e directa. É de louvar! E deviam haver mais!
O realizador Tom Hooper - que se estreia aqui em longas metragens depois de uma série de telefilmes ("Longford"e "Red Dust"), e séries ("John Adams", "Daniel Deronda") toma todas as opções certas, ao concentrar o filme nos personagens e deixar o jogo ao vivo para segundo plano. Sábia decisão foi também a de utilizar muitas imagens de arquivo (sobretudo nos jogos). Afinal trata-se de uma história real e conhecida por todos (sobretudo no Reino Unido) e Hooper jogou bem os trunfos.

O filme, baseado no livre de David Peace, conta a história de Brian Clough (considerado o melhor treinador inglês de todos os tempos) e o seu périplo de 44 dias no Leeds United de 1974. 
A carreira de Clough começa seis anos antes no Hartlepool e depois no Derby County (onde vence o título, primeiro e último da história do Derby). O seu grande rival Don Revie, por quem Clough nutre um ódio de estimação, aceita o convite o para ser seleccionador inglês depois de 13 anos no Leeds. Onde venceu quase tudo o que havia para ganhar. Clough, levado pela sua ambição e por uma inusitada vingança pessoal, aceita a difícil tarefa de o substituir. A sua fixação em Revie acaba por deitar tudo a perder e o seu reinado em Leeds (na altura um dos melhores clubes ingleses) acaba em desgraça, sem uma única vitória.


Michael Sheen está brilhante no papel do protagonista. Em todos os capítulos convence-nos da desmedida ambição e sede de vingança deste homem, e ao mesmo tempo as suas fragilidades (ilustradas de forma brilhante pela camera de Hooper). Timothy Spall também me surpreendeu no papel do adjunto de Clough. Verdadeiramente realistas estes personagens, capaz de dominarem e serem dominados, de dureza e de tristeza. Afinal é assim que é a vida! Colm Meaney faz do antagonista Don Revie, e consegue criar uma personagem mesmo irritante. De tal forma que a maior parte do tempo nos sentimos na pele de Clough, e com uma imensa vontade de reagir.

É incrível que um filme destes passe despercebido do grande público. Uma obra arriscada, mas cuidadosamente preparada em todos os pormenores. A fotografia e a direcção de arte estão igualmente ao nível dos restantes departamentos. É isso que mais me espanta. Todos os aspectos do filme ao mesmo nível de qualidade, algo muito difícil tratando-se de um patamar bastante alto.


Aconselho vivamente, fãs de futebol ou não (e eu sou fã, mas não conhecia esta história).
Óptimo filme, para ver sozinho ou em família, à tarde ou à noite.

Nota   : 8 / 10


quinta-feira, 23 de setembro de 2010

#03. THE EXPERIMENT



"The Experiment" (EUA, 2010)
Realização : Paul Scheuring
Argumento : Paul Scheuring
Fotografia : Amelia Vincent
Actores: Adrien Brody ("Travis"), Forest Whitaker ("Barris"), Cam Gigandet ("Chase"), Clifton Collins Jr. ("Nix"), Ethan Cohn ("Benjy"), Fisher Stevens ("Archaleta"), David Banner ("Bosch"), Maggie Grace ("Bay").


# O cartaz realmente promete. Juntar Adrien Brody e Forest Whitaker no mesmo filme à partida será uma boa fórmula de sucesso. Mas o filme vai pelo mesmo tom. Promete, mas não cumpre.
E o duo de protagonistas até não vai mal, mas a história não permite voos mais altos.

O realizador/argumentista é Paul Scheuring que esteve envolvido na série televisiva "Prison Break", e tenta aqui abordar um tema parecido mas em formato longa-metragem.

Travis é enfermeiro em part-time. Desprendido da vida, sonha em viajar pelo mundo. Quando é despedido do hospital onde trabalha, e conhece numa manifestação pacifista Bay - por quem se apaixona - vê a oportunidade (e a companhia) ideal para finalmente partir. Só há um problema : não tem dinheiro.
Vê um anúncio de um emprego onde pode ganhar em duas semanas dinheiro suficiente para a sua viagem. É na entrevista que conhece Barris, um desempregado de meia-idade, católico devoto, e que ainda vive com a mãe (e sofre com isso). Ambos passam por um rigoroso processo de selecção e são escolhidos (entre outros) para o trabalho.


E aqui inicia-se a trama. O "trabalho" consiste numa experiência científica, em que durante 14 dias, um grupo de cidadãos normais deve assumir o papel de prisioneiro e de guarda prisional.  O grupo divide-se em dois e é deixado numa prisão, proibidos de qualquer contacto com o exterior, e obrigados a obedecer a uma série de regras. Travis fica no grupo dos prisioneiros, e Barris no grupo dos guardas.

Até aqui tudo bem, mas depois, esta bela premissa, torna-se um pouco fechada em si mesmo. Sem história, nem ritmo, o filme agarra-se à dupla Brody/Whitaker para ver se consegue alguns pontos.
Mas o que consegue é pouco e previsível. Na verdade, desde a primeira cena que os dois contracenam, conseguimos adivinhar o resultado do embate.
A experiência não resulta, os prisioneiros liderados por Travis revoltam-se e Barris tenta manter a ordem como chefe dos guardas. E não passa disto. Constantes embates psicológicos e físicos entre os dois actores que levam obviamente a um desfecho trágico.

Forest Whitaker bem tenta manter o seu personagem à tona, mas a história é muito frágil, e torna-se por vezes excessivo o esforço do actor. Brody faz o cool pacifista (até à revolta claro) e a sua transição para a violência, além de pouco verosímil (e aqui a culpa é do argumento) é muito rápida. Não lhe é dado tempo e espaço para realmente acreditarmos nela.
Fica a sensação que perceberam demasiado tarde que o argumento não era nada de especial, e que tentam em esforço, dar emotividade e força aos personagens.



A realização e a fotografia (e até a direcção de arte) estão muito agarradas ao formato televisivo, e o facto de quase todo o filme ser numa prisão (logo em estúdio) também não ajuda. A tentativa de ser claustrofóbico passa completamente ao lado.

No final sabe a muito pouco. Mais um filme que parece valer mais do que vale. E um duo de actores com mais um fracasso para juntar à sua lista.



Nota : 4 / 10

#02. PERRIER´S BOUNTY




"Perrier´s Bounty" (Irlanda, 2010)
Realização : Ian Fitzgibbon
Argumento : Mark O´Rowe
Fotografia : Seamus Deasy
Actores : Cillian Murphy ("Michael McCrea"), Brendan Gleeson ("Darren Perrier"), Jim Broadbent ("Jim McCrea"), Jodie Whittaker ("Brenda"), Gabriel Byrne ("Voice of the Grim Reaper").

# Fiquei surpreendido com esta produção irlandesa. Pela positiva. Mas demorou quase meia-hora de filme para começar realmente a interessar-me. E isso deveu-se sem dúvida à excelente prestação dos actores (especialmente Cillian Murphy e Jim Broadbent - filho e pai na história).
O argumento é simples e parecido a tantos outros gangster thrillers. Uma tragicomédia,  muito na onda britânica que Guy Ritchie desencadeou em 1998 com o genial "Lock, Stock and Two Smoking Barrells.

É o segundo filme do realizador Ian Fitzgibbon (o primeiro com actores internacionais), depois de vários anos a fazer séries e telefilmes na televisão inglesa e irlandesa. O argumento é de Mark Rowe que já tinha escrito "Boy A" e "Intermission", dois filmes com relativo sucesso por terras de sua majestade.

Michael McCrea está à beira do precipício. Tem dois dias para pagar o que deve a Darren Perrier e não tem como o fazer. Alem disso, a rapariga por quem está apaixonado, Brenda, gosta de outro (que por sua vez a traí constantemente, e Michael sabe disso) e não percebe que Michael é que é o bom partido. Ainda para complicar mais, Jim, seu pai, reaparece na sua vida (não se viam há quatro anos) e diz-lhe que está prestes a morrer.
Este é o enredo inicial que se vai desenvolvendo com a presença de um narrador constante, que vai nos contando a história sempre em tom irónico.



Desenrola-se em Dublin e nos seus arredores e é interessante como a camera capta a cidade, sempre mostrando o seu lado mais sombrio. Becos e ruelas, chuva sempre presente e gangsters. Pormenor muito interessante é a quantidade de dobermans e pitbulls que existem pela cidade. O realizador escolheu ridicularizar esta prática de ter estes cães para exibição e lutas. Pela forma como nos é mostrada, parece claramente uma situação que assola a cidade.

O que se destaca sem dúvida é a interpretação. Jim Broadbent (como o pai meio tresloucado) e Cillian Murphy (o filho defensor da justiça, mas sempre rodeado de problemas) encaixam muito bem como dupla e carregam o filme aos ombros, com pequenas incursões de Brendan Gleeson, sempre no seu estilo muito pessoal (nem cómico, nem dramático, é uma mistura dificil de explicar). Jodie Whittaker parece um pouco excessiva no papel de "Brenda". As variações emocionais da personagem e os acontecimentos em catadupa do argumento também não ajudam.


No final acontece o que se espera, o karma do cinema não perdoa, mas a forma como acontece é interessante. É dramático mas não perde o tom de humor negro. E o castigo final do "mau da fita" é de ficar com um sorriso.

Bom para uma matiné ou para uma sessão dupla nocturna.

Nota: 6 / 10

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

#01. ROBIN HOOD


"Robin Hood" (EUA/GB 2010)
Realização : Ridley Scott
Fotografia: John Mathieson
Argumento : Brian Helgeland
Actores : Russell Crowe ("Robin Hood"), Cate Blanchett ("Marion Loxley"), Max Von Sydow ("Sir Walter Loxley"), William Hurt ("William Marshall"), Mark Strong ("Godfrey"), Oscar Isaac ("Prince John"), Mark Addy ("Friar Tuck"), Matthew Macfadyen ("Sheriff of Notthingham"), Danny Huston ("King Richard"), Eileen Atkins ("Eleanor of Aquitaine"), Léa Seydoux ("Isabella of Angoulème").


#À partida este era um filme do qual desconfiei. Não por Ridley Scott, cuja reputação é intocável. Afinal já passou por quase todos os géneros com sucesso. Desde a ficção científica ("Alien", "Blade Runner"), passando pela guerra ("Black Hawk Down"), aos policiais/thrillers ("Hannibal", "American Gangster", "Body of Lies", "Thelma and Louise") e claro aos épicos históricos ("Gladiator", "Kingdom of Heaven", "1492) que é a categoria onde se encaixa este "Robin Hood".

O que me colocou de pé atrás aqui foi a escolha do protagonista. Eu até gosto do Russell Crowe, mas a imagem que temos do Robin dos Bosques é daquela figura esguia e ginasta com collants verdes. Errol Flynn assim o retratou. Nos anos 90 surgiu uma imagem mais arrojada, com Kevin Costner com o papel principal em "Robin Hood - Prince of Thieves" (realizado por Kevin Reynolds), e que é a seguida neste filme mas com um actor bem mais corpulento e duro.

A escolha de Crowe segue a tendência de Hollywood que já tinha escolhido Daniel Craig para o papel de James Bond. E de outros também recentes como Matt Damon ("Jason Bourne") ou Hugh Jackman ("X-Men") Os novos heróis querem se assim.


O filme conta nos a história de Robin Longstride até ele se tornar o célebre príncipe dos ladrões. Inicia-se nas cruzadas onde é um simples arqueiro da armada do Rei Ricardo Coração de Leão. E acaba em Nottingham onde é acolhido pelos Loxley e conhece Marion, cujo marido morreu ao seu lado na guerra. Pelo meio batalhas e batalhas (contra franceses, entre ingleses, de tudo um pouco).

Esteticamente o filme está muito bom, consegue retratar bem os tempos díficeis do século XII, apesar da crueldade exagerada (penso eu) do Rei João, sucessor de Ricardo. As cenas de batalha multiplicam-se e estão bem encenadas. Pecam talvez por demasiado tempo (a última batalha tem pelo menos trinta minutos!!).

A performance dos actores acaba por passar para segundo plano. Aliás, Russell Crowe fala muito pouco quase todo o filme, tal é a sucessão de lutas e batalhas ao longo da história. Até Cate Blanchett parece um pouco apagada com tanta acção (Ela que é uma das apenas três mulheres com algum relevo no filme). No geral os actores cumprem sem deslumbrar (o próprio guião não está para isso). E é sempre bom ver Max Von Sydow com um papel importante. William Hurt não consegue fazer nada mal. Só Mark Strong não me convenceu. Provavelmente a sua sucessão de filmes (e papéis de vilão) está a prejudicá-lo.


O final deixa antever uma sequela. Apesar dos produtores falarem num filme único. Mas não me convence, acredito mesmo que vai iniciar-se uma saga "Robin Hood". Este filme na realidade faz me lembrar claramente (na sua génese) o "Batman Begins", mas sem um argumento tão bom.

Provavelmente estamos perante um novo franchise.

No geral aconselho a ver se estiverem dentro da onda histórica, ou se forem fãs das lendas. Porque é realmente a abordagem estética que ganha neste filme. Como história não acrescenta nada de novo.

Nota: /10

O Meu Vício

Sou um viciado em cinema. Há muitos anos que utilizo esta filosofia de ver um filme por dia. Para combater a apatia em algumas ocasiões, e para tantos outros efeitos e resultados em outras.

Ver um filme é deixar-se levar para um outro mundo durante a sua duração. É apreciar todas as artes envolvidas, desde o argumento e às interpretações, passando pela abordagem estética e sonora.

Para mim existem regras básicas quando se procede ao visionamento de um filme:
1. É essencial ver um filme do início ao fim (com genérico e tudo) e sem intervalos. Obviamente que há momentos em que não há outra hipótese, mas deve-se tentar fazê-lo sempre que possível.
2. Ver o filme na sua língua original. Em Portugal essa questão só se coloca nos filmes de animação. E muitas vezes as dobragens portuguesas são melhores que as originais. Mas é uma questão de príncipio, ver o filme tal como ele foi pensado pelos seus criadores.
3. Ver o filme com qualidade de imagem e som. Se possível no cinema. Se não for possível garantam a qualidade da cópia, original ou não. Não é possível ter uma experiência cinematográfica se não nos conseguirmos absorver pelo filme. Os defeitos de imagem e som prejudicam de sobremaneira essa absorção.

Neste blog, tal como o título indica, vou tentar colocar uma crítica diária ao filme que visionei nesse dia.

Até breve